domingo, 24 de agosto de 2008

Lira romantiquinha...

Por que me trancas
o rosto e o riso
e assim me arrancas
do paraíso?

Por que não queres,
deixando o alarme
(ai, Deus: mulheres!),
acarinhar-me?


Por que cultivas
as sem perfume
e agressivas,
flores do ciúme?


Acaso ignoras
que te amo tanto,
todas as horas,
já nem sei quanto?


Visto que em suma
é todo teu,
de mais nenhuma,
o peito meu?


Anjo sem fé
nas minhas juras,
porque é que é
que me angusturas?

Minh'alma chove
frio, tristinho.
Não te comove
este versinho?

(Carlos Drummond de Andrade)

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