domingo, 31 de maio de 2009

Augusto dos Anjos...



diego teixeira filho - olhares.com

Mãos

Há mãos que fazem medo
Feias agregações pentagonais,
Umas, em sangue, a delinqüentes natos,
Assinalados pelo mancinismo,
Pertencentes talvez...
Outras, negras, a farpas de rochedo
Completamente iguais...
Mãos de linhas análogas e anfratos
Que a Natureza onicriadora fez
Em contraposição e antagonismo
Às da estrela, às da neve, ás dos cristais.

Mãos que adquiriram olhos, pituitárias
Olfativas, tentáculos sutis,
E à noite, vão cheirar, quebrando portas
O azul gasofiláceo silencioso
Dos tálamos cristãos.
Mãos adúlteras, mãos mais sanguinárias
E estupradoras do que os bisturis
Cortando a carne em flor das crianças mortas.
Monstruosíssimas mãos,
Que apalpam e olham com lascívia e gozo
A pureza dos corpos infantis.

2 comentários:

Codinome Beija-Flor disse...

Fantástica essa poesia.
A vc sempre na escolha perfeita.
Bjos

Mari disse...

Flor querida,

Adoro as poesias de Augusto dos Anjos. Já sentia falta dele aqui. Ele é perfeito, com certeza...

Bjs