quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Carlos Drummond de Andrade...

Os ombros suportam o mundo



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

4 comentários:

Citadino Kane disse...

"Em vão mulheres batem à porta, não abrirás".
Por que não abrirei?

"Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes".
Bem, sozinho sozinho não! Nem vi a luz apagar, quem foi o sacana que apagou? Se eu pego... Mas meus olhos são grandes assim, é hein?!

"És todo certeza, já não sabes sofrer".
Não sei mesmo!

"Chegou um tempo em que não adianta morrer".
Ai Jesus! Por que Mari? Por que...

"Chegou um tempo em que a vida é uma ordem".
Tudo bem obedecerei Capitoa!

"A vida apenas, sem mistificação".
Então tá!

Anônimo disse...

Apesar de todo peso, viver vale a pena, nem que seja para recordar...

lindo dia flor
beijos

Mari disse...

Pedro,

Eu sempre vou bater a tua porta a procura de poesias...

Bjs

Mari disse...

Clarinha querida,

Vale a pena em qualquer tempo...

Bjs flor!