Sou como você me vê.Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,depende de quando e como você me vê passar. Clarice Lispector
Cecília Meireles
Qual foi a música que você mais gostou? Pensei e rapidamente respondi: O Caderno.
A resposta soou meio que surpresa, pois pelo semblante percebi que pudesse escolher outra música. Mas, foi O Caderno mesmo que encantou-me ouvir. Claro que todas as outras músicas são maravilhosas (CD Toquinho 30 Anos), mas esta tocou-me no fundo peito, o lado criança de ser, a sensação de bem estar, o tempo de estudante.
Ouçam e por favor lembrem de mim, tá.
http://www.paixaoeromance.com/80decada/o_caderno/h_o_caderno.htm
Lá fora, a Noite, Satanás, seduz!
Desdobra-se em requintes de Beleza...
E como um beijo ardente a Natureza...
A minha cela é como um rio de luz...
Fecha os teus olhos bem! Não vejas nada!
Empalidece mais! E, resignada,
Prende os teus braços a uma cruz maior!
Ainda a mortalha que te encerra!
Enche a boca de cinzas e de terra
Ó minha mocidade toda em flor!
Nada como um dia atrás do outro
Tenho essa virtude de esperar
Eu sou maneira, sou de trato, sou faceira
Mas sou flor que não se cheira
É melhor se previnir pra não cair
Sou mulher que encara um desacato
Se eu não devolver no ato
Amanhã pode esperar
Estrutura tem meu coração
Pra suportar essa implosão
Que abalou meus alicerces de mulher
Mas a minha construção é forte
Sou madeira, sou de morte
Faça o vento que fizer
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
Os pássaros da madrugada
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
por que insisto em te imaginar ?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.
Cecília Meireles
Quero saber
Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com uma condição: não nos compreender.