Ah! Mari, seres humanos... Seria muito mais fácil dividir, muito melhor a beleza das flores, ao invés dos som cruel do disparo das armas, seria melhor a brincadeira com os animais, do que a concorrência pelo poder, que poder é esse? Beijos e flores para você
“Não sei com que armas os homens lutarão na Terceira Guerra, mas na Quarta, será a pau e pedra” –Einstein ............
Os homens amam a guerra. Por isso se armam festivos em coro e cores para o dúbio esporte da morte.
Amam e não disfarçam. Alardeiam esse amor nas praças, criam manuais e escolas, alçando bandeiras e recolhendo caixões, entoando slogans e sepultando canções.
Os homens amam a guerra. Mas não a amam só com a coragem do atleta e a empáfia militar, mas com a piedosa voz do sacerdote, que antes do combate serve a hóstia da morte.
Foi assim na Criméia e Tróia, na Eritréia e Angola, na Mongólia e Argélia, no Saara e agora.
Os homens amam a guerra E mal suportam a paz.
Os homens amam a guerra, portanto, não há perigo de paz.
Os homens amam a guerra, profana ou santa, tanto faz.
Os homens têm a guerra como amante, embora esposem a paz.
E que arroubos, meu Deus! nesse encontro voraz! que prazeres! que uivos! que ais! que sublimes perversões urdidas na mortalha dos lençóis, lambuzando a cama ou campo de batalha.
Durante séculos pensei que a guerra fosse o desvio e a paz a rota. Enganei-me. São paralelas margens de um mesmo rio, a mão e a luva, o pé e a bota. Mais que gêmeas são xifópagas, par e ímpar, sorte e azar são o ouroboro- cobra circular eternamente a nos devorar.
A guerra não é um entreato. É parte do espetáculo. E não é tragédia apenas é comédia, real ou popular, é algo melhor que circo: -é onde o alegre trapezista vestido de kamikase salta sem rede e suporte, quebram-se todos os pratos e o contorcionista se parte no kamasutra da morte.
A guerra não é o avesso da paz. É seu berço e seio complementar. E o horror não é o inverso do belo -é seu par. Os homens amam o belo mas gostam do horror na arte. O horror não é escuro, é a contraparte da luz. Lúcifer é Lubel, brilha como Gabriel e o terror seduz. Nada mais sedutor que Cristo morto na cruz.
Portanto, a guerra não é só missa que oficia o padre, ciência que alucina o sábio, esporte que fascina o forte. A guerra é arte. E com o ardor dos vanguardistas frequentamos a bienal do horror e inauguramos a Bauhaus da morte.
Por isso, em cima da carniça não há urubu, chacais, abutres, hienas. Há lindas garças de alumínio, serenas, num eletrônico balé.
Talvez fosse a dança da morte, patética. Não é . É apenas outra lição de estética. Daí que os soldados modernos são como médico e engenheiro e nenhum ministro da guerra usa roupa de açougueiro.
Guerra é guerra! dizia o invasor violento violentando a freira no convento Guerra é guerra! dizia a estátua do almirante com a boca de cimento. Guerra é guerra! dizemos no radar desgustando o inimigo ao norte do paladar.
Não é preciso disfarçar o amor à guerra, com história de amor à pátria e defesa do lar. Amamos a guerra e a paz, em bigamia exemplar. Eu, poeta moderno ou o eterno Baudelaire eu e você, hypocrite lecteur, mon semblable, mon frère. Queremos a batalha, aviões em chamas navios afundando, o espetacular confronto.
De manhã abrimos vísceras de peixes com a ponta das baionetas e ao som da culinária trombeta enfiamos adagas em nossos porcos e requintamos de medalha -os mortos sobre a mesa.
Se possível, a carne limpa, sem sangue. Que o míssil silente lançado à distância não respingue em nossa roupa. Mas se for preciso um banho de sangue -como dizia Terêncio:-sou humano e nada do que é humano me é estranho.
A morte e a guerra não mais me pegam ao acaso. Inscrevo sua dupla efígie na pedra como se o dado de minha sorte já não rolasse ao azar, como se passasse do branco ao preto e ao branco retornasse sem nunca me sombrear. Que venha a guerra! Cruel. Total. O atômico clarim e a gênese do fim. Cauto, como convém aos sábios, primeiro bradarei contra esse fato. Mas, voraz como convém à espécie, ao ver que invadem meus quintais, das folhas da bananeira inventarei a ideológica bandeira e explodirei o corpo do inimigo antes que ataque. E se ele não atirar primeiro, aproveito seu descuido de homem fraco, invado sua casa realizando minha fome milenar de canibal rugindo sob a máscara de homem.
-Terrível é o teu discurso, poeta! Escuto alguém falar. Terrível o foi elaborar. Agora me sinto livre. A morte e a guerra já não podem me alarmar. Como Édipo perplexo decifrei-a em minhas vísceras antes que a dúbia esfinge pudesse me devorar.
Nem cínico nem triste. Animal humano, vou em marcha, danças, preces para o grande carnaval. Soldado, penitente, poeta -a paz e a guerra, a vida e a morte me aguardam - num atômico funeral.
-Acabará a espécie humana sobre a Terra? Não. Hão de sobrar um novo Adão e Eva a refazer o amor, e dois irmãos: -Caim e Abel -a reinventar a guerra.
6 comentários:
Ah! Mari,
seres humanos...
Seria muito mais fácil dividir, muito melhor a beleza das flores, ao invés dos som cruel do disparo das armas, seria melhor a brincadeira com os animais, do que a concorrência pelo poder, que poder é esse?
Beijos e flores para você
OS HOMENS AMAM A GUERRA
“Não sei com que armas os homens lutarão na Terceira Guerra,
mas na Quarta, será a pau e pedra” –Einstein
............
Os homens amam a guerra. Por isso
se armam festivos em coro e cores
para o dúbio esporte da morte.
Amam e não disfarçam.
Alardeiam esse amor nas praças,
criam manuais e escolas,
alçando bandeiras e recolhendo caixões,
entoando slogans e sepultando canções.
Os homens amam a guerra. Mas não a amam
só com a coragem do atleta
e a empáfia militar, mas com a piedosa
voz do sacerdote, que antes do combate
serve a hóstia da morte.
Foi assim na Criméia e Tróia,
na Eritréia e Angola,
na Mongólia e Argélia,
no Saara e agora.
Os homens amam a guerra
E mal suportam a paz.
Os homens amam a guerra,
portanto,
não há perigo de paz.
Os homens amam a guerra, profana
ou santa, tanto faz.
Os homens têm a guerra como amante,
embora esposem a paz.
E que arroubos, meu Deus! nesse encontro voraz!
que prazeres! que uivos! que ais!
que sublimes perversões urdidas
na mortalha dos lençóis, lambuzando
a cama ou campo de batalha.
Durante séculos pensei
que a guerra fosse o desvio
e a paz a rota. Enganei-me. São paralelas
margens de um mesmo rio, a mão e a luva,
o pé e a bota. Mais que gêmeas
são xifópagas, par e ímpar, sorte e azar
são o ouroboro- cobra circular
eternamente a nos devorar.
A guerra não é um entreato.
É parte do espetáculo. E não é tragédia apenas
é comédia, real ou popular,
é algo melhor que circo:
-é onde o alegre trapezista
vestido de kamikase
salta sem rede e suporte,
quebram-se todos os pratos
e o contorcionista se parte
no kamasutra da morte.
A guerra não é o avesso da paz.
É seu berço e seio complementar.
E o horror não é o inverso do belo
-é seu par. Os homens amam o belo
mas gostam do horror na arte. O horror
não é escuro, é a contraparte da luz.
Lúcifer é Lubel, brilha como Gabriel
e o terror seduz.
Nada mais sedutor
que Cristo morto na cruz.
Portanto, a guerra não é só missa
que oficia o padre, ciência
que alucina o sábio, esporte
que fascina o forte. A guerra é arte.
E com o ardor dos vanguardistas
frequentamos a bienal do horror
e inauguramos a Bauhaus da morte.
Por isso, em cima da carniça não há urubu,
chacais, abutres, hienas.
Há lindas garças de alumínio, serenas,
num eletrônico balé.
Talvez fosse a dança da morte, patética.
Não é . É apenas outra lição de estética.
Daí que os soldados modernos
são como médico e engenheiro
e nenhum ministro da guerra
usa roupa de açougueiro.
Guerra é guerra!
dizia o invasor violento
violentando a freira no convento
Guerra é guerra!
dizia a estátua do almirante
com a boca de cimento.
Guerra é guerra!
dizemos no radar
desgustando o inimigo
ao norte do paladar.
Não é preciso disfarçar
o amor à guerra, com história de amor à pátria
e defesa do lar. Amamos a guerra
e a paz, em bigamia exemplar.
Eu, poeta moderno ou o eterno Baudelaire
eu e você, hypocrite lecteur,
mon semblable, mon frère.
Queremos a batalha, aviões em chamas
navios afundando, o espetacular confronto.
De manhã abrimos vísceras de peixes
com a ponta das baionetas
e ao som da culinária trombeta
enfiamos adagas em nossos porcos
e requintamos de medalha
-os mortos sobre a mesa.
Se possível, a carne limpa, sem sangue.
Que o míssil silente lançado à distância
não respingue em nossa roupa.
Mas se for preciso um banho de sangue
-como dizia Terêncio:-sou humano
e nada do que é humano me é estranho.
A morte e a guerra
não mais me pegam ao acaso.
Inscrevo sua dupla efígie na pedra
como se o dado de minha sorte
já não rolasse ao azar,
como se passasse do branco
ao preto e ao branco retornasse
sem nunca me sombrear.
Que venha a guerra! Cruel. Total.
O atômico clarim e a gênese do fim.
Cauto, como convém aos sábios,
primeiro bradarei contra esse fato.
Mas, voraz como convém à espécie,
ao ver que invadem meus quintais,
das folhas da bananeira inventarei
a ideológica bandeira e explodirei
o corpo do inimigo antes que ataque.
E se ele não atirar primeiro, aproveito
seu descuido de homem fraco, invado sua casa
realizando minha fome milenar de canibal
rugindo sob a máscara de homem.
-Terrível é o teu discurso, poeta!
Escuto alguém falar.
Terrível o foi elaborar.
Agora me sinto livre.
A morte e a guerra
já não podem me alarmar.
Como Édipo perplexo
decifrei-a em minhas vísceras
antes que a dúbia esfinge
pudesse me devorar.
Nem cínico nem triste. Animal
humano, vou em marcha, danças, preces
para o grande carnaval.
Soldado, penitente, poeta
-a paz e a guerra, a vida e a morte
me aguardam
- num atômico funeral.
-Acabará a espécie humana sobre a Terra?
Não. Hão de sobrar um novo Adão e Eva
a refazer o amor, e dois irmãos:
-Caim e Abel
-a reinventar a guerra.
(Affonso Romano de Sant'Anna)
Paradoxalmente o homem diz querer a vida, mas vive estimulando a morte.
Que os dias que virão tragam mais esperança.
Bjs
Tk
Esfinge,
Seria muito bom se a paz estivesse dentro do coração de cada um, o mundo seria bem melhor, tenho certeza.
Bj de paz.
Cris,
Obrigada por Affonso Romano. Lindo.
Bjs
Teca,
Paz para todos nós, precisamos...
Bjs
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